Apanhai-me as raposas, as raposinhas




“Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que devastam os vinhedos...(Cantares 2.15)

Engana-se quem imagina que são os grandes problemas que destroem um casamento, uma família ou uma grande amizade. Pelo contrário, quando uma grave tormenta se abate sobre o lar, tal como um acidente de um dos familiares, ou uma doença grave e repentina, a tendência é dos membros da família se unirem e estreitarem seu relacionamento para lutar com todas as forças contra aquele “inimigo” indesejável.

Muitas vezes situações ameaçadoras vindo de fora ajudam a despertar da letargia membros da família que passam a se posicionar mais firmemente nesses tempos.

Agora, difícil mesmo é lutar contra as “pequenas raposinhas” que aparecem sob o vinhedo, e pouco a pouco vão destruindo sua formosura, até que ele seque completamente.

O que o poeta bíblico quis dizer com “raposinhas”?

Parece que elas gostavam de cavoucar ao redor das videiras cobertas de flores. Elas são as pequenas coisas que não damos muita importância, mas que, infelizmente, teimam estar presentes em nossa vida – é aquela palavra a mais, ao final da discussão, que não precisava ser dita, e você insiste sempre em dizer, é o gesto desprovido de mansidão, é a dureza de julgamento, são os ciúmes que a esposa não consegue esconder ou o perfeccionismo do marido que insiste em que tudo seja feito do jeito que ele gosta.

Na vida da igreja, as “raposinhas” são aqueles pequenos acontecimentos desagradáveis, à princípio sem maior importância, mas se não damos cabo deles, logo começam a perturbar o relacionamento dos irmãos e pequenas intrigas surgem aqui e acolá, e quando o pastor vê todo o vinhedo construído com tanto amor foi destruído – não pela ação maléfica do mundo nem por uma investida insidiosa de Satanás.

Tudo isso são como imperceptíveis “raposinhas”, que às vezes nem nos damos conta de sua existência em nossas vidas. Mas uma coisa é certa – o resultado é sempre devastador. Não há jejum e oração que mantenha o vinhedo bonito se, por outro lado, ele estiver sendo devastado pelas pequenas raposas.

Sansão derrotou inimigos fortíssimos mas depois foi vencido porque permitiu a ação destruidora de uma delas em sua vida.

Gideão, grande herói da Bíblia que venceu batalhas com poucos homens, ao final de sua vida permitiu que uma pequena vaidade levasse Israel de volta à idolatria.

Crentes amarram Satanás todos os dias nas grandes concentrações mas não apanham as raposinhas que estão destruindo sua vida familiar.

É interessante observar como há cristãos hoje preocupados com a besta do Apocalipse, com maldição hereditária, com demônios territoriais, com a temperatura do inferno, e não fazem a menor ideia que aquilo que eles devem temer e se preocupar de verdade é com aquele olhar de soslaio que lançam sorrateiramente ao sexo oposto, tem de se preocupar é com aquele sentimento de auto suficiência que, devagarzinho, devagarzinho, os tem afastado do Deus vivo.


Só há uma maneira de manter a videira bonita, a família saudável e a igreja abençoada: “apanhando” tudo aquilo que destrói uma relação de amor. Sim, apanhe tudo isso e dê um fim em nome de Jesus.

Talvez o que o cristão mais precisa hoje é reconhecer a existência dessas “raposinhas” em sua vida.

Não é bom sinal se não estamos conseguindo dar cabo delas. É sinal de que alguma coisa vai mal lá dentro de nós, é sinal que há um “sabotador” em nosso interior que está destruindo aquilo que levou anos para erigir. É sinal de que não estamos bem conosco nem com Deus.

As vinhas estão em flor; não deixemos que elas sejam destruídas por pequenas coisas.


Daniel Rocha
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