Lição 09 - Um lugar de adoração a Deus no deserto



INTRODUÇÃO
 
I. AS INSTRUÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DO TABERNÁCULO
II. O PÁTIO DO TABERNÁCULO
III. O LUGAR DA HABITAÇÃO DE DEUS
 
CONCLUSÃO
 
UM LUGAR DE ADORAÇÃO NO DESERTO
Silas Daniel
 
“Do capítulo 25 ao capítulo 40 do livro de Êxodo, encontramos a instituição dos métodos de adoração a Deus entre o povo de Israel. As instruções divinas para o culto são dadas a Moisés, que as repassa ao povo; e elas consistem não só de orientação quanto à confecção de objetos a serem usados na organização dessa adoração, mas também de orientações voltadas para a liturgia do culto a Deus.
 
Entretanto, o que chama muito a atenção nesses capítulos é que, em meio a essa série de orientações sobre a montagem do santuário e a liturgia a ser adotada, Moisés também narra a apostasia do povo no deserto, quando os israelitas tiveram que ser fortemente confrontados e ocorre a quebra do concerto de Deus com seu povo, o qual só foi restaurado após o arrependimento dos israelitas e a intercessão de Moisés em favor deles (Êx 32.1—34.35). Notemos que essa apostasia envolvia, principalmente, uma adoração equivocada (Êx 32.1-8).
 
Como afirma o Comentário Bíblico Beacon, “esta seção final do Livro do Êxodo revela a paciência de Deus em lidar com seu povo rebelde e mostra os detalhes minuciosos que são requisitos para o povo adorá-lo”.  Ou seja, a adoração equivocada, a misericórdia de Deus e a adoração correta são os assuntos que, não por acaso, perpassam os capítulos que compreendem a última seção do livro de Êxodo. Sim, não por acaso esses assuntos se encontram aqui, porque, na verdade, eles só poderiam estar aqui. As instruções para o Tabernáculo e a apostasia do povo de Israel no deserto são episódios que estão entrelaçados não apenas cronologicamente, mas também tematicamente, porque evidenciam o tremendo contraste entre a verdadeira e a falsa adoração.
 
É chocante ver que enquanto Deus estava manifestando a Moisés o desejo de habitar no meio dos israelitas e dava-lhe as instruções para que houvesse um maior relacionamento dEle com o povo por meio da instituição de um santuário, os judeus estavam envolvidos em um projeto pessoal de religião, criando seus próprios símbolos de adoração, seu próprio culto e se chafurdando no pecado. Esses capítulos mostram o contraste entre a verdadeira e a falsa adoração, entre os frutos e o espírito do verdadeiro culto a Deus e os do falso culto. E a suma desse contraste é: enquanto o verdadeiro culto a Deus, através do ritual dos sacrifícios e do significado dos símbolos que ele carregava, evoca arrependimento, quebrantamento, humildade e conclamava à santidade, o culto apóstata leva o povo à licenciosidade (Êx 32.6,25).
 
Eis a grande lição desses últimos capítulos do livro de Êxodo.
 
A seguir, vejamos e analisemos as orientações divinas dadas a Moisés para uma verdadeira adoração a Ele, e notemos como elas refletem verdades neotestamentárias sobre a verdadeira adoração. Afinal, a adoração a Deus no Antigo Testamento pode se diferenciar externamente da adoração no Novo Testamento — além, claro, do fato de contarmos hoje com um acesso maior a Deus por meio do sacrifício perfeito e definitivo de Cristo —, mas os princípios que subjazem na adoração a Deus no Antigo Testamento são os mesmos no Novo Testamento.
 
Como afirma o escritor da Epístola aos Hebreus, tudo que envolvia o ritual de adoração a Deus no Antigo Testamento era “sombra” das verdades celestiais evidenciadas no Novo Testamento por meio de Cristo (Hb 8.5). Ou, como bem resume a Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal ao comentar essa passagem de Hebreus, “o padrão para o Tabernáculo construído por Moisés foi dado por Deus. Era um padrão da realidade espiritual do sacrifício de Cristo e, deste modo, antecipava a realidade futura. [...] O Tabernáculo terrestre era uma expressão dos princípios eternos e teológicos”. 
 
Aprendamos, portanto, um pouco mais sobre a verdadeira adoração com os princípios eternos subjacentes nas instruções divinas para a construção do Tabernáculo.
 
“E Habitarei no Meio Deles”
 
Depois da entrega da Lei, encontramos, bem no início do capítulo 25, as primeiras instruções de Deus a Moisés para a construção do Tabernáculo. O homem de Deus estava já há algum tempo na presença divina no alto do monte, quando o Senhor começa a transmitir-lhe o projeto de um santuário a ser erguido entre o povo e o propósito de sua construção: “... e habitarei no meio deles” (Êx 25.8).
 
“Habitarei no meio deles.” Até aquele momento, Deus já havia se manifestado várias vezes em favor de Israel, mas não fora visto ainda “no meio deles”. Quando Deus falava a Moisés no monte, o povo assistia a distância, impactado pela visão dos raios projetados lá de cima. Agora, porém, Deus está dizendo que a sua presença, que os assistira até ali, estaria permanentemente no meio do arraial, representada por e habitando um santuário erguido sob sua orientação.
 
Enfim, Deus queria que o povo tivesse um relacionamento mais íntimo com Ele, e hoje não é diferente: Ele deseja o mesmo conosco por meio do seu Santo Espírito, que, como asseverou Jesus, habita em nós desde o dia em que entregamos nossa vida a Cristo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14.16,17 – grifo meu).
 
Os Recursos e o Modelo para a Construção do Tabernáculo
 
Os capítulos 25 a 31 apresentam as diretrizes para a construção do Tabernáculo, e os capítulos 35 a 40, a execução dessas diretrizes. Alguns pontos chamam a atenção nessas instruções divinas.
 
O primeiro deles é que esse santuário, onde Deus estaria habitando no meio do seu povo, deveria ser construído com ofertas espontâneas (Êx 25.2). As ofertas deveriam ser voluntárias. Essa mesma orientação é vista em outras passagens bíblicas relativas a ofertas alçadas (1 Cr 29.17; 2 Co 9.7). Isso nos ensina que o princípio basilar para encetar qualquer relação mais íntima do homem com Deus é a disposição sincera do coração. Não se pode construir um relacionamento com Deus sem esse item inicial. Ele vem antes de qualquer “tijolo” a ser colocado e permanece durante todo o processo, porque, como bem disse Davi, ainda que tenhamos um templo belo e o sacrifício que levemos ao altar seja perfeito, se não há, antes de tudo, esse coração aberto, sensível e voltado para Deus, não adianta nada: “Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17).
 
O segundo ponto é que o Tabernáculo também não poderia ser feito de qualquer jeito. Seus detalhes não foram entregues ao gosto de Moisés ou do povo. Não! O Tabernáculo deveria ser construído seguindo as minuciosas diretrizes divinas: “Conforme tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis” (Êx 25.9). Deus não habitaria no meio do povo em um Tabernáculo construído como o povo queria, mas em um Tabernáculo construído como Ele queria.
 
O modelo tanto do santuário como de seus utensílios foi dado pelo próprio Deus. E justamente por causa desse modelo preestabelecido, as ofertas alçadas também teriam que se enquadrar dentro de uma lista predeterminada pelo Senhor (Êx 25.3-7). O povo deveria ofertar espontaneamente, mas não poderia ofertar qualquer coisa. Ofertar espontaneamente não significa ofertar o que você quer, mas ofertar porque você quer.
 
Isso nos ensina que não podemos nos relacionar com Deus e chegar a Ele como nós queremos, mas segundo os parâmetros estabelecidos por Ele para as nossas vidas. Não podemos apresentar ao altar de Deus qualquer coisa, mas só aquilo que lhe agrada, que está dentro de sua vontade. Mais à frente, vemos Deus afirmando que não receberia sacrifícios com animais imperfeitos nem aceitaria fogo estranho no seu altar (Lv 1.1-3; 10.1-3). Ou seja, a verdadeira adoração se dá segundo os parâmetros estabelecidos pelo próprio Deus, os quais nos são expressos pela sua Palavra. Por exemplo: só podemos chegar a Deus por meio de Cristo (Jo 14.6); a verdadeira adoração deve ser em espírito e em verdade (Jo 4.23); o nosso culto deve ser racional (Rm 12.1); devemos envolver todo o nosso ser na adoração a Ele (Sl 103.1; Rm 12.1); nosso zelo diante de Deus deve ser com entendimento (Rm 10.2); devemos viver uma vida de santidade (Hb 12.14); devemos pedir a Deus somente o que está dentro da sua vontade (1 Jo 5.14); devemos fazer tudo para glória de Deus (1 Co 10.31); devemos colocar em primeiro plano em nossas vidas o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6.33); em tudo o que fizermos deve haver uma intenção pura e genuína norteada pelo verdadeiro amor (1 Co 13.1-7); tudo que ocorrer no culto público deve ser “para edificação” (1 Co 14.26); o culto público deve ter louvor, Palavra e manifestação sadia de dons (1 Co 14.26); tudo deve ser feito “com decência e ordem” (1 Co 14.40); etc” (COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé: Moisés, o Êxodo e o Caminho à Terra Prometida. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp.88-92.