1º Trimestre de 2014
Lição 7
1Trim2014_Lição 7: Os Dez Mandamentos do Senhor
16 de fevereiro de 2014
TEXTO ÁUREO
“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4).
VERDADE PRÁTICA

A Lei expõe e condena os nossos pecados, porém, o Senhor Jesus Cristo, pelo seu sangue expiador, nos perdoa e nos justifica mediante a fé.

HINOS SUGERIDOS

262, 285, 306.

LEITURA DIÁRIA
Segunda - Jo 1.16,17
A lei de Moisés e a graça de Deus
Terça - Rm 1.16,17
O crente vive em Cristo a partir da fé
Quarta - Gl 4.4,5
Cristo veio alcançar os que estavam sob a Lei
Quinta - 1Co 1.30,31
Cristo — sabedoria, justiça, santificação e redenção
Sexta - Rm 10.8,17
A fé pela Palavra quando crida e obedecida
Sábado - Gl 2.16
A justificação nos vem pela fé em Cristo

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 20.1-5,7-10,12-17.
Êxodo 19
1 - Então, falou Deus todas estas palavras, dizendo:
2 - Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
3 - Não terás outros deuses diante de mim.
4 - Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
5 - Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR, teu Deus, sou Deus zeloso [...].
7 - Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
8 - Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.
9 - Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra,
10 - mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas.
12 - Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá.
13 - Não matarás.
14 - Não adulterarás.
15 - Não furtarás.
16 - Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
17 - Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.

OBJETIVOS

Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
  • Conhecer os propósitos dos Dez Mandamentos.
  • Compreender o conceito de cada mandamento.
  • Saber que os Dez Mandamentos referem-se a relação do homem com Deus e o próximo.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Palavra Chave
Mandamento: Disposição escrita em que se determina a realização de um ato, de uma diligência; mandato.

Hoje estudaremos o capítulo 20 do livro de Êxodo. É uma síntese concernente aos Dez Mandamentos que foram entregues por Deus a Moisés. Muitos pensam que os preceitos morais da Lei foram somente para o Antigo Pacto. Todavia, Jesus ressaltou, no Sermão do Monte, que os preceitos morais da Lei são eternos e imutáveis, por isso precisamos conhecê-los. [Comentário: Em continuidade ao estudo de Êxodo, chegamos ao capítulo 20, onde há o registro do Decálogo - escritos pelo próprio Deus em duas tábuas de pedra e entregues a Moisés e ao povo de Israel (Êx 31.18; Dt 4.1 3; 1 0.4). A guarda dos mandamentos proveu um meio de Israel procurar viver em retidão diante de Deus, agradecido pelo seu livramento do Egito; ao mesmo tempo, tal obediência era um requisito para os israelitas habitarem na Terra Prometida (Dt 41.14; 14). Os Dez Mandamentos são dez leis na Bíblia que Deus deu à nação de Israel logo após o êxodo do Egito. Os Dez Mandamentos são essencialmente um resumo dos mais de 600 mandamentos contidos na Lei do Antigo Testamento. Os primeiros quatros mandamentos lidam com a nossa relação com Deus. Os outros seis mandamentos lidam com os nossos relacionamentos com os outros. Os Dez Mandamentos estão registrados na Bíblia em Êxodo 20:1-17 e Deuteronômio 5:6-21. Jesus Cristo e os apóstolos afirmam que, como expressões autênticas da santa vontade de Deus, eles permanecem obrigatórios para o crente do Novo Testamento (Mt 22.37-39; Mc 12.28-34; Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.1 4; Lv 1 9.1 8; Dt 6.5; 1 0.1 2; 30.6). Conforme esses trechos do Novo Testamento, os Dez Mandamentos resumem-se no amor a Deus e ao próximo; guardá-los não é apenas uma questão de práticas externas, mas também requer uma atitude do coração. Logo, a lei demanda uma justiça espiritual interior que se expressa em retidão exterior e em santidade. Os preceitos civis e cerimoniais do Novo Testamento que regiam o culto e a vida social de Israel já não são obrigatórios para o crente do Novo Testamento. Eram tipos de sombras de coisas melhores vindouras, e cumpriram-se em Jesus Cristo (Hb 10.1; Mt 7.12; 22.37-40; Rm 13.8; Gl 5.14; 6.2). Mesmo assim, contêm sabedoria e princípios espirituais a todas as gerações” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.145).]. Tenhamos todos uma excelente e abençoada aula!

I. OS PROPÓSITOS DA LEI

1. O Decálogo (Êx 20.3-17). O termo Decálogo literalmente significa “dez enunciados” ou “declarações” (Êx 34.28; Dt 4.13). Ele foi proferido por Deus no Sinai (Êx 20.1), mas também escrito por Ele em duas tábuas de pedra (Êx 31.18). O Decálogo exprime a vontade de Deus em relação ao ser humano. É, na verdade, um resumo da lei moral de Deus.[Comentário: Decálogo significa dez palavras (Êx 34,28). Estas palavras resumem a Lei, dada por Deus ao povo de Israel, no contexto da Aliança, por meio de Moisés. Este, ao apresentar os mandamentos do amor a Deus (os quatro primeiros) e ao próximo (os outros seis), traça, para o povo eleito e para cada um em particular, o caminho de uma vida liberta da escravidão do pecado. Os Dez Mandamentos foram entregues no Monte Sinai ao povo hebreu, por Deus, através de Moisés, separadamente do restante da Torá (ensinamentos). De acordo com a Bíblia, os Mandamentos escritos nas duas tábuas da Lei, foram escritas pelo dedo do próprio Deus sendo que os demais foram ditados e escritos em pergaminhos por Moisés e ambos falados diretamente ao povo. Em hebraico (língua original dos Mandamentos), o número de letras dos Dez Mandamentos é equivalente a 613, o número total dos mandamentos da Torá.].
2. Objetivos do Concerto divino. A lei foi dada por Deus a Israel com os seguintes objetivos:
a) Prover um padrão de justiça. A lei entregue pelo Senhor a Moisés é um padrão de moralidade para o caráter e a conduta do homem, seja ele judeu, seja ele gentio (Dt 4.8; Rm 7.12). [Comentário: Estes dizeres não foram copiados do Egito ou de outras nações, como alguns suspeitam. “As declarações do monte Sinai são nobres e inteiramente diferentes de qualquer coisa encontrada em todo o conjunto da literatura egípcia.” Deus deu estas palavras não como meio de salvação, porque este povo já estava salvo do Egito, mas como norma de conduta. Levando em conta que a obediência era uma cláusula para a continuação do concerto (Êx 19.5), estas palavras se tornaram a base de perseverança na qualidade de povo de Deus. Paulo deixou claro que a observância da lei não é meio de salvação pessoal, pois a justificação é pela fé em Cristo (G1 2.16). A lei conduz a Cristo, mas não salva (G1 3.24). Deduzimos que esta lei moral foi dada como fundamento providencial para a fé do povo de Deus. Quem o ama observa sua lei. Dividir a lei em lei moral, lei cerimonial e lei civil é, por um lado, útil, e, por outro, enganoso. Lógico que a lei moral do Decálogo é básica e expressa a responsabilidade de todos os homens. Mas as outras leis dadas a Israel também eram igualmente obrigatórias.].
b) Identificar e expor a malignidade do pecado. “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse”; isto é, fosse devidamente conhecida (Rm 5.20). “Pela lei vem o conhecimento do pecado”, ou seja, o conhecimento pleno da transgressão (Rm 3.20; 7.7). A lei não faz do ser humano um pecador, mas faz com que ele se reconheça como um transgressor. Ela expõe a malignidade do pecado, mas ao mesmo tempo aponta o caminho da sua expiação pela fé em Deus através dos sacrifícios que eram oferecidos no Tabernáculo (Lv 4-7). [Comentário: As leis de Deus eram demonstração de sua justiça por meio de símbolos e forneciam uma disciplina pela qual os israelitas poderiam ser conformados à santidade de Deus. Verdade é que, como nos ensina o apóstolo, a lei veio para que a ofensa abundasse (Rm 5.20). Isto mostra-nos claramente o verdadeiro objetivo da lei: veio a propósito para que o pecado se fizesse excessivamente maligno (Rm 7.13). Era, em certo sentido, como um espelho perfeito enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Se eu me puser diante de um espelho com o meu vestuário desarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas não o põe em ordem. Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a tortuosidade, mas não a altera. Se eu sair numa noite escura com uma luz, esta revela-me todos os obstáculos e dificuldades que se acham no caminho, mas não os remove. Além disso, o espelho, o prumo, e a luz não criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem os afastam, apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: não cria o mal no coração do homem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalível exatidão (C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé).].
c) Revelar a santidade de Deus. O Senhor revela a sua santidade por intermédio da lei mosaica (Êx 24.15-17; Lv 19.1,2), de igual forma, em o Novo Pacto, Ele revela a todo o mundo o seu amor através do seu Filho Jesus (Jo 3.16; Rm 5.8). A lei foi dada por Deus para conduzir a humanidade a Cristo (Rm 10.4). [Comentário: Mas, pode perguntar-se, "a lei não é perfeita? E se é perfeita que mais pode desejar-se? A lei é divinamente perfeita. Na verdade, a própria perfeição da lei é a razão de amaldiçoar e matar aqueles que não são perfeitos e pretendem subsistir perante ela. "A lei é espiritual, mas eu sou carnal" (Rm 7.14). É inteiramente impossível fazer-se uma ideia justada perfeição e espiritualidade da lei. Porém, esta lei perfeita estando em contato com a humanidade caída—esta lei espiritual entrando em contato com a mente carnal—só podia produzir a "ira" a "inimizade" (Rm 4.15; 8.7). Por quê?- É porque a lei não é perfeita?- Ao contrário, é porque ela o é e o homem é pecador. Se o homem fosse perfeito cumpriria a lei em toda a sua perfeição espiritual; e até mesmo no caso de crentes verdadeiros, embora tragam ainda consigo uma natureza corrompida, o apóstolo ensina-nos: "Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Rm 8.4): "...porque quem ama aos outros cumpriu a lei... O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.8 e 10). Se eu amar o próximo não furtarei aquilo que lhe pertence; pelo contrário, procurarei fazer-lhe todo o bem que puder. Tudo isto é claro e fácil de compreender por uma alma espiritual; mas não toca na questão da lei, quer seja como fundamento de vida do pecador ou de regra de vida para o crente. (C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé).].
SINOPSE DO TÓPICO (I)
A Lei de Deus, entregue a Moisés tinha os seguintes propósitos para Israel: prover um padrão de justiça; identificar e expor a malignidade do pecado; revelar a santidade de Deus.

II. OS DEZ MANDAMENTOS (ÊX 20.1-17)

1. O primeiro mandamento. “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). Neste primeiro mandamento, Deus se revela como o único e verdadeiro Deus (Dt 6.4). Naquela época havia entre as nações falsos deuses. Um exemplo disso é o Egito, onde o povo de Israel estivera por 430 anos. Nossa adoração e culto devem ser dirigidos somente ao único e verdadeiro Deus. Não devemos cultuar nem os anjos (Ap 19.10), nem os homens (At 10.25,26) ou quaisquer símbolos. O primeiro mandamento da lei, reafirmado em o Novo Testamento, foi a respeito da adoração somente a Deus (1Co 8.4-6; 1Tm 1.17; Ef 4.5,6; Mt 4.10). [Comentário: Não terás outros deuses. Temos aqui a regra do monoteísmo (ver a respeito no Dicionário). Neste ponto, o monoteísmo substitui todas as outras possíveis noções de Deus. Todavia, não basta acreditar na existência de um Deus. Esse Deus único precisa ser reconhecido e obedecido como a autoridade moral de todos os atos humanos. Também só há um Deus no atinente à questão da adoração e do serviço espirituais. O Deus único merece toda honra. Isso labora contra 0 panteísmo e todo 0 seu caos. Este último adiciona muitas informações àquilo que comentamos aqui (ver também Êx 23.13). A nação de Israel estava cercada por povos que eram leais a um número impressionante de divindades. As pragas do Egito tinham mostrado que só YAHWEH é Deus (Êx 5.2 e 6.7). Há uma profunda verdade na ideia que um homem só pode adorar a um Deus. Jesus abordou essa questão em Mateus 6.24. Os homens adoram aquelas coisas que lhes parecem importantes, incluindo o dinheiro. Há deuses externos e internos. Mas todos eles são deuses falsos. Os versículos 4-6 descrevem e ampliam 0 primeiro mandamento. Os católicos-romanos e os luteranos (e também muitos intérpretes judeus) pensam que esses versículos formam, conjuntamente, o primeiro mandamento. Mas a maioria dos outros grupos protestantes e evangélicos fazem desses versículos um mandamento distinto. YAHWEH é um Deus zeloso que não tolera rivais (vs. 5; 34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem antropomórfica. Divindades rivais seriam algo contrário ao caráter único de Deus. E um deus que não é único não é 0 verdadeiro Deus. A desobediência ao primeiro mandamento foi a principal razão dos cativeiros que, finalmente, Israel sofreu. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388).].
2. O segundo mandamento. “Não farás para ti imagem de escultura” (Êx 20.4-6). Aqui Deus proíbe terminantemente o uso de imagens idolátricas. “Deus é Espírito”, disse Jesus (Jo 4.24). Então, não há como adorá-lo por meio de imagens. Querer adorar a Deus por meio de imagens visíveis é falta de fé, pois Cristo é a imagem de Deus (Cl 1.13-23). É abominação ao Senhor a idolatria, ou seja, ter ídolos e ser idólatra (Dt 7.25). Na vida do crente, um ídolo é tudo o que ocupa o primeiro lugar em sua vida, em seu coração, em seu tempo e em sua vontade. Esse “ídolo” pode ser acúmulo de riqueza, a busca pela grandeza, pelo sucesso e pela fama. Pode ser também a busca pela popularidade, pelo prazer desenfreado. Há muita gente na igreja se arruinando espiritualmente por causa dos “ídolos do coração”.[Comentário: “Como o primeiro mandamento afirma a unidade de Deus e é um protesto contra o politeísmo, assim o segundo afirma sua espiritualidade e é um protesto contra a idolatria e o materialismo.” Embora certas formas de idolatria não sejam materiais — por exemplo, a avareza (Cl 3.5) ou a sensualidade (Fp 3.19) —, o segundo mandamento condena primariamente a fabricação de imagens na função de objetos de adoração. Este tipo de idolatria sempre existiu entre os povos pagãos mais simplórios do mundo. A história de Israel comprova que esta tentação é traiçoeira. Estas imagens pagãs eram feitas na forma de coisas vistas no céu, na terra e nas águas. Estas imagens não deveriam se tornar objetos de adoração: Não te encurvarás a elas. Os versículos 4 e 5 devem ser considerados juntos. Não há condenação para a confecção de imagens, contanto que não se tornem objetos de veneração. No Tabernáculo (25.31-34) e no primeiro Templo (1 Rs 6.18,29) havia obras esculpidas. A idolatria consiste em transformar uma imagem em objeto de adoração e atribuir a ela poderes do deus que representa. Se considerarmos que gravuras ou imagens de pessoas possuam poderes divinos e que sejam adorados, então elas se tornam ídolos. Deus apresentou os motivos para esta proibição. Ele é Deus zeloso, no sentido de que não permite que o respeito e a reverência devidos a Ele sejam dados a outrem. Deus não regateia o sucesso ou a felicidade para as pessoas, como faziam os deuses gregos. E para o bem dos filhos de Deus que eles devem consagrar e reverenciar o nome divino. Deus pune a desobediência e recompensa a obediência. Muitos questionam o julgamento nos filhos de pais ofensores, mas tais julgamentos são temporários (Ez 18.14-17) e aplicam-se às consequências, como, por exemplo, doenças, que naturalmente seguem as más ações. O medo de prejudicar os filhos deveria exercer coibição salutar na conduta dos pais. As perdas que os filhos sofrem por causa da desobediência parental podem levar os pais ao arrependimento. Na pior das hipóteses, a pena vai até à terceira e quarta geração, ao passo que a misericórdia é mostrada a mil gerações quando há amor e obediência. (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 189-190).].
3. O terceiro mandamento. “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão” (Êx 20.7). O nome de Deus representa Ele mesmo; sua divina natureza; seu infinito poder e seu santo caráter. Este mandamento, portanto, diz respeito à santidade do Senhor. Tomar o nome do Todo-Poderoso em vão é mencioná-lo de modo banal, profano, secular e irreverente.[Comentário: Tomar o nome do SENHOR, teu Deus, em vão é “recorrer ao irrealismo, ou seja servir-se do nome de Deus para apelar ao que não é expressão do caráter divino”. Tal uso profano do nome de Deus ocorre no perjúrio, na prática da magia e na invocação dos mortos. A proibição é contra o falso juramento e também inclui juramentos levianos e a blasfêmia tão comum em nossos dias. “Este mandamento não obsta o uso do nome de Deus em juramentos verdadeiros e solenes.” Deus odeia a desonestidade, e é pecado sério alguém usar o nome divino para encobrir um coração mau, ou para se fazer melhor do que se é. A pessoa que procura disfarçar uma vida pecaminosa, ao mesmo tempo em que professa o nome de Cristo, quebra este terceiro mandamento. Tais indivíduos são culpados diante de Deus e só recebem misericórdia depois de se arrependerem. Os justos veneram o nome de Deus por ser santo e sagrado. (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 190). Alan Cole afirma que “No judaísmo mais recente, esta proibição envolvia qualquer uso impensado e irreverente do nome YHWH. Este só era pronunciado uma vez por ano, pelo sumo-sacerdote, ao abençoar o povo no grande Dia da Expiação (Lv 23:27). Em sua forma original, o mandamento parece ter-se referido a jurar falsamente pelo nome de YHWH (Lv 19:12). Este parece ser o verdadeiro sentido do texto hebraico. A lei permitia abençoar e amaldiçoar em nome de YHWH (Dt 11:26): isso equivalia virtualmente a proclamar Sua vontade e Seu propósito para com várias classes de indivíduos. Jurar pelo Seu nome era, então, permitido, embora fosse proibido por Cristo, séculos mais tarde (Mt 5.34). Na verdade, jurar pelo Seu nome (e não pelo de qualquer outro deus) era um sinal de que tal pessoa era um adorador de YHWH (Jr 4.2), e por isso era algo digno de louvor. Uma razão mais profunda para tal proibição pode ser vista no fato de que Deus era a única realidade viva para a mentalidade israelita. É por isso que Seu nome era sempre envolvido nos votos e juramentos, normalmente na fórmula “tão certo como vive o Senhor” (2 Sm 2:27). Usar tal frase e depois deixar de cumprir o voto era questionar a realidade da própria existência de Deus. Pois YHWH não terá por inocente. A explicação, embora correta, provavelmente não fazia parte do abrupto mandamento apodítico original” (R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 150).].
4. O quarto mandamento. “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar” (Êx 20.8-11). O sábado era um dia de descanso e de adoração a Deus. O termo sábado vem do hebraico shabbath (cessar; interromper). Em Gênesis 2.3 está escrito que: Deus “descansou” (literalmente “cessou”, no sentido de alguém interromper o que estava fazendo). A expressão “lembra-te”, usada pelo autor no versículo 8, indica que o sábado já fora dado por Deus no princípio, e que já era observado para descanso do trabalho e adoração a Deus (Gn 2.1-3; Êx 20.10). É importante ressaltar que em o Novo Testamento não há um só versículo que ordene a guarda do sábado como dia fixo santificado para descanso e adoração ao Senhor. O sábado foi dado como um “sinal” do pacto do Sinai entre Deus e Israel. Assim, o sábado assinala Israel como povo especial de Deus (Êx 31.12,13,17; Ez 20.10-12). A respeito dos demais mandamentos não está dito que eles são “sinais”. Para nós, o princípio que permanece é um dia de descanso na semana, para nosso benefício físico e espiritual (Cf. Mc 2.27,28). Nós, cristãos, observamos o domingo como dia de culto, pois Cristo ressuscitou no primeiro dia da semana (Lc 24.1-3). [Comentário: O uso do verbo lembra-te insinua que é fácil negligenciar o dia santo de Deus. Tinha de ser mantido em ininterrupta consciência e santificado, ou seja, “retirado do emprego comum e dedicado a Deus”. Todo o trabalho comum seria feito em seis dias, ao passo que o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus. Era um dia dedicado, separado, a ser dado inteiramente a Deus. Ninguém deveria trabalhar neste sétimo dia. O senhor não deveria fazer seus servos trabalharem. Até os animais tinham de descansar do trabalho cotidiano. Havia proibições específicas, como a ordem de não colher maná (16.26), não acender fogo (35.3), não apanhar lenha (Nm 15.32-36). Embora o foco seja negativo, a lei permitia o trabalho necessário, como o trabalho de sacerdotes e levitas no Templo, o atendimento a doentes e o salvamento de animais (cf. Mt 12.5,11). A razão para observar o sábado é que Deus fez a terra em seis dias e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o dia do sábado e o santificou. As Escrituras não fazem uma lista de coisas que se deve fazer no sábado. A inferência inequívoca é que o dia é de descanso e adoração. As ocupações seculares e materialistas devem ser substituídas por atividades espirituais. CRISTO condenou o legalismo que deu ao dia a forma severa e insensível, embora não tenha anulado a sacralidade do dia. Foi ordenado para o bem do homem (Mc 2.23-28). A observância do dia do Senhor (domingo) como o sábado cristão preserva o princípio moral que há neste mandamento. A mudança do sábado judaico para o sábado cristão foi feita gradualmente sem perder necessariamente o propósito de Deus para este dia santo. Notamos que os versículos 9 e 10 não especificam o sábado nem “o sétimo dia da semana” como o dia do descanso sabático. A letra do mandamento é cumprida pela observação do dia seguinte aos seis dias de trabalho, como faz o cristão. (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 190-191).].
SINOPSE DO TÓPICO (II)
Do primeiro ao quarto mandamento, o Decálogo apresenta leis para situar a relação do homem com Deus.

III. A CONTINUAÇÃO DOS MANDAMENTOS DIVINOS

1. O quinto mandamento. “Honra a teu pai e a tua mãe” (Êx 20.12). Honrar é respeitar e obedecer, por amor, à autoridade dos pais, e com eles cooperar em tudo. É o primeiro mandamento contendo uma promessa de Deus: “Para que se prolonguem os teus dias”. [Comentário: Tal como o versículo 8, este é um mandamento categórico formulado positivamente. O mesmo princípio sob outra forma pode ser encontrado em 21.15,17: “Quem ferir/amaldiçoar seu pai ou sua mãe, será morto” . Este é chamado” o primeiro mandamento com promessa” (Ef 6.2), e assim o é, no sentido mais estrito da palavra, embora o versículo 6, onde Deus demonstra “o amor da aliança” aos que O amem e obedeçam, também seja virtualmente uma promessa. A promessa divina, contudo, é mais clara aqui, produzindo seus resultados na sociedade. Os que constroem uma sociedade na qual a velhice ocupa lugar de honra podem esperar confiantemente desfrutar do mesmo lugar algum dia. Tal doutrina não é muito popular em nossos dias, quando a juventude é adorada, e a velhice temida ou desprezada. O resultado é a loucura que leva homens e mulheres a lutarem por permanecer eternamente jovens, e acabar descobrindo ser isso impossível. Este mandamento é parte da atitude geral para com a Velhice em Israel (como símbolo e, idealmente, personificação da sabedoria prática da vida), elogiada em todo o Velho Testamento (Lv 19.32), e encontrada em muitos outros povos antigos, notavelmente entre os chineses. Não se pode precisar se o mandamento está relacionado à ideia de que sendo a vida sagrada e dom de Deus, os doadores humanos da vida devem ser tratados com respeito: talvez um israelita não analisasse o mandamento deste modo. Para que se prolonguem os teus dias. Às vezes, indivíduos supersensíveis questionam a validade de uma promessa ligada a um mandamento. O hebraico, entretanto, não implica necessariamente em que a bênção prometida seja nosso motivo para obedecer o mandamento, ao passo que assegura definitivamente qual seja o resultado de tal obediência. Outros questionam a natureza material da promessa. Em dias do Velho Testamento, todavia, as promessas divinas eram normalmente formuladas em termos materiais, compreensíveis para aqueles que, por assim dizer, ainda estavam no jardim-de-infância de Deus. Para aqueles que, até àquela altura, não tinham conhecimento definido de uma vida futura, “dias prolongados” significavam possibilidade de continuada comunhão com Deus, e eram por isso muito importantes. Por outro lado, alguns consideram esta promessa como um seguro de propriedade da terra que Deus lhes daria: isto, por sua vez, traria glória a Deus, por demonstrar Sua fidelidade às Suas promessas. Nós, com revelação mais completa, podemos “espiritualizar” tal promessa sem esvaziá-la de seu conteúdo. Este mandamento é o ponto em que a atenção é desviada do relacionamento para com Deus e se concentra no relacionamento com a comunidade que Ele criou. Assim, o conteúdo total dos dez mandamentos pode ser resumido em duas “palavras”, não uma apenas: amor a Deus e amor ao nosso próximo (Dt 6.5; Lv 19.18). Mais uma vez, não há contradição: a realidade de nosso amor declarado a Deus é demonstrada pela realidade de nosso amor expresso para com nossos semelhantes (Jr 22.16). (R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 151-152).].
2. O sexto mandamento. “Não matarás” (Êx 20.13). No original, o termo rasah equivale a matar o ser humano de modo doloso, premeditado, planejado. Este mandamento ressalta a sacralidade da vida humana como dádiva de Deus (At 17.25-28). Há também aqueles que matam o próximo no sentido moral, social e espiritual, mediante a mentira, a falsidade, a difamação, a calúnia, a maledicência e o falso testemunho (1Jo 3.15). Atualmente há muitos que foram atingidos mortalmente em sua honra e praticamente “morreram”. [Comentário: O Antigo Testamento justificava, contudo, certas formas de homicídio. Um escravo podia ser morto sem que seu proprietário fosse punido (Êx 21.21). Quem invadisse uma casa podia ser morto, sem sanções contra quem lhe tirasse a vida (Êx 22.2). O sexto mandamento não proibia os sacrifícios de animais. Matar alguém, durante as batalhas, não era considerado um crime (Dt. 20.1-4). É possível que, em alguns casos, fosse permitida a eutanásia (segundo nos é sugerido em 1Sm 31.4,5). Presume-se que o suicídio era proibido, embora não seja especificamente mencionado. De fato, os trechos de 1Sm 17.23 e 31.4,5 até podem ser usados como defesa de alguns casos de suicídio. A eutanásia, quando aprovada, é a mais conspícua exceção ao sexto mandamento. A lei proíbe o abuso da propriedade por meio do furto (Êx 20.15, o oitavo mandamento). Ora, a vida de um homem é sua mais preciosa possessão, bem como o veículo de que ele precisa para cumprir o desígnio divino em sua vida. Portanto, o homicídio insulta Deus, e não somente o homem, porquanto interfere no propósito de Deus que se está cumprindo nos homens. Desde os dias do Antigo Testamento, tem aumentado o respeito peia vida humana; mas o homem está ainda muito longe de ter um autêntico respeito pela sacralidade da vida humana. O trecho de Mateus 5.21,22 expande o sexto mandamento para que inclua o ódio, a inveja, a má vontade e o assassinato de caráter. A ira indevida e pensamentos maliciosos, que se expressem em palavras ou ações, devem ser compreendidos como implicações desse sexto mandamento.(CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 392-392).].
3. O sétimo mandamento. “Não adulterarás” (Êx 20.14). Este mandamento do Senhor está vinculado à sacralidade, pureza e respeito absoluto ao sexo, ao matrimônio e à família. O adultério é um ato sexual ilícito e pecaminoso, de um cônjuge com outra pessoa estranha ao casamento. Enquanto a lei condenava a prática do ato, o Novo Testamento vai além — condena os motivos ocultos no coração que levam ao adultério (Mt 5.27,28). Portanto, mais que condenar o ato praticado, Deus espera que em todo o tempo dominemos nossos desejos e nos submetamos ao domínio do Espírito Santo. [Comentário: A Lei permitia poligamia (talvez uma instituição social necessária à proteção de mulheres solteiras), mas jamais permitiu poliandria (caso em que uma mulher tem vários maridos simultaneamente). O fato de um homem ter relações sexuais com a esposa de outro homem era considerado um pecado hediondo tanto contra Deus como contra o homem, já bem antes da lei, ao tempo dos patriarcas (Gn 39.9). Talvez este mandamento esteja relacionado ao “furto” e à “cobiça” proibidos nos dois mandamentos seguintes, já que a esposa pertencia a outrem. Talvez isto explique um dos aspectos mais intrigantes para nós que vivemos sob a nova aliança: apesar de que relações sexuais com prostitutas não sejam recomendadas, também não são proibidas (embora fosse proibido aos israelitas o permitir que suas filhas se entregassem a tais práticas degradantes, Lv 19.29). Talvez isso não infringisse os direitos de outrem, como no caso de um adultério. Por outro lado, é claro (ver Mt 19.4-6) que a monogamia era o plano de Deus para o homem na criação: e sem sombra de dúvida, tal como o divórcio, a poligamia e mesmo a fornicação eram toleradas na economia mosaica devido à dureza do coração humano (Mt 19.8). Em CRISTO, elas se tornam absolutamente impensáveis (1Co 6.15). Longe de anular este mandamento, CRISTO o intensificou, incluindo como” adultério” muito do que não é apenas tolerado, mas justificado por nossa sociedade permissiva (Mt 5.28). Semelhantemente Ele incluiu os pensamentos maldosos na proibição de assassinato: os mandamentos têm como alvo o pensamento e a motivação, não apenas o ato(R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 154).].
4. O oitavo mandamento. “Não furtarás” (Êx 20.15). Furtar é apoderar-se oculta ou disfarçadamente daquilo que pertence a outrem. Isso abrange toda forma de desonestidade, de mentira, de ocultação, por palavra e por atos. É preciso respeitar os bens dos outros. Ter honestidade e pureza nos atos; no viver, no agir, no proceder. [Comentário: O ser humano tem direito possuir coisas. E uma vez que as possua, não pode ser privado delas por parte de quem quer que seja. Fica entendido, contudo, que tal ser humano entrou na possessão de suas coisas de maneira honesta, pois, em caso contrário, ele já roubou tais coisas de alguém, quebrando assim 0 oitavo mandamento. O comunismo oficializou o furto de propriedade privada, por parte do estado, mediante o decreto de alguns poucos mandamentos. O ladrão às vezes apenas furta sub-repticiamente, mas muitas vezes também rouba mediante a violência, incluindo à mão amada. Neste último caso há violência física, mas todo furto ou roubo é um ato egoísta. Por muitas vezes, as coisas que as pessoas possuem foram adquiridas em troca de trabalho árduo e longo. E contra a natureza privar um homem daquilo que ele chegou a possuir mediante trabalho e sacrifício pessoal. Os impostos, embora decretados oficialmente, também podem ser exorbitantes e pecaminosos, como modos ilegítimos de que os governantes se valem para lesar os governados. Logo, taxas excessivas devem ser classificadas como quebras do oitavo mandamento. E também há uma maneira passiva de fazer a mesma coisa. Devemos mostrar-nos generosos, compartilhando com outros de nossos valores monetários. Se assim não fizermos, então estaremos furtando o que deveria ser dado a pessoas menos afortunadas do que nós. Dificilmente pode ser mantida uma sociedade estável quando os ladrões fazem o que bem entendem. A desonestidade, em todas as suas formas, é um grande mal social, custando aos governos um alto preço na tentativa de controlá-la. Como já dissemos, há formas violentas e não-violentas de roubo, como também há formas particulares e públicas. E também há desonestidades individuais e coletivas. A sacralidade da propriedade fica implícita no oitavo mandamento. Alguns estudiosos ampliam esse mandamento, por implicação, para o que envolvem os danos causados pela maledicência e pelos ataques vertais contra outrem (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 393). Este mandamento regula o direito da propriedade particular. E errado tomar de outro o que é legalmente dele. Constitui roubo quando a pessoa se apossa do que legalmente pertence a uma empresa ou instituição. Não há justificativa para a “apropriação” mesmo quando a pessoa sente que o produto lhe é devido. Este mandamento é quebrado quando a pessoa intencionalmente preenche a declaração do Imposto de Renda com informações falsas, desta forma retendo tributos devidos ao governo. Esta prática é imprópria mesmo que o cidadão desaprove o governo. Também passa a ser roubo o ato de tirar vantagens de outrem na venda de propriedades ou produtos, ou na administração de transações comerciais. E impróprio pagar salários mais baixos do que devem receber por direito. O amor do dinheiro é o pecado básico condenado por este mandamento. A obediência é perfeita somente com um coração puro (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 191). Mais uma vez aqui esta proibição visa preservar a comunhão da comunidade da aliança. Talvez a proibição original visasse o rapto com propósito de escravidão (ver a experiência de José em Gn 37), mas sem dúvida todos os tipos de furto estão incluídos. O código da aliança esclarece os detalhes (por exemplo, 22.1-4), de modo que não há necessidade de explicações aqui. Numa sociedade camponesa onde a vida é árdua, qualquer roubo pode levar à morte, de modo que o furto se torna um crime sério. Há uma clara ligação entre este mandamento e o décimo (R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 154).].
5. O nono mandamento. “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16). Este mandamento do Senhor trata da nossa honestidade e sinceridade no uso da palavra em relação aos outros. Falso testemunho é falar mal dos outros; acusar e culpar injustamente; difamar; caluniar; mentir (Tg 4.11). [Comentário: Parece que o objetivo central deste mandamento é a proteção ao sistema judicial. Os tribunais seriam inúteis se os homens chegassem ali para mentir. Se tiver de ser feita uma acusação contra outra pessoa, e se o acusado tiver de defender-se, a verdade terá de ser dita por ambas as parles, sob pena da justiça naufragar. Mas esse mandamento também se aplica a questões individuais. A sociedade em geral perturba-se quando as pessoas saem a espalhar mentiras e calúnias sobre seus semelhantes. O trecho de Êx 23.1 condena o falso testemunho em nível pessoal. Ver Dt 19.16-20 que requeria juízo apropriado contra falsas testemunhas que perturbavam o sistema judicial. A linguagem e os fatos devem concordar entre si (Ver Dt 13.14; 17.4; 22.20; Jr 9,5; Sl 9.5; 15.2; Pv 12.19; 14.25; 22.21). A verdade precisa ser dita como tempero do amor (Ef 4.15). Algumas vezes, as meias verdades prejudicam mais do que as mentiras francas. O amor, porém, guarda-nos tanto da mentira aberta quanto das meias verdades. A mentira artística vem sendo aprovada desde os tempos mais antigos, conforme muitos eruditos supõem. Ver o caso de Labão (Gn 29.21-27), e o caso um tanto anterior de Jacó (Gn 27.6-36). Por outro lado, a luz que brilhou por meio de Moisés por certo condenava qualquer tipo de mentira ou abuso de linguagem. (CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 393).].
6. O décimo mandamento. “Não cobiçarás” (Êx 20.17). Este mandamento é o respeito ético a tudo o que pertence aos outros. Isto abrange o controle e o domínio dos apetites da alma, dos impulsos, desejos e vontade do crente. Cobiçar é querer o que pertence a alguém. Querer as coisas dos outros é um desejo insano que precisa ser debelado. [Comentário: Este último mandamento está por baixo dos quatro precedentes, visto que atinge o propósito do coração. Matar, adulterar, roubar e mentir são resultados de desejos errados que inflamam nosso ser. E singular que a lei hebraica inclua este desafio ao nosso pensamento e intenção. “Os antigos moralistas não reconheciam esta condição” e não condenavam os desejos maus. Mas é no coração onde se inicia toda a rebelião, e este mandamento revela o aspecto interior de todos os mandamentos de Deus. Paulo reconheceu este aspecto interior da lei quando se conscientizou de sua condição pecaminosa (Rm 7.7). Muitas pessoas são absolvidas de crimes com base em atos exteriores, mas são condenadas quando levam em conta os pensamentos interiores. Estes desejos cobiçosos são, por exemplo, pela propriedade ou pela mulher pertencente ao próximo. Tais desejos criminosos precisam ser purgados pelo Espirito de Deus; só assim viveremos em obediência perfeita à santa lei de Deus (Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 192). O termo hebraico hãmaçl, “ desejar”, é em si mesmo neutro. É apenas quando mal orientado para aquilo que pertence a outrem que tal “desejo” se torna errado. Alguns consideram que este é o único dos dez mandamentos a proibir uma atitude mental e não o simples ato externo; mas fazer tal distinção é, provavelmente, uma falsa compreensão da mentalidade israelita. Tal como no caso de “amar” e “odiar”, “desejar” é uma atividade, quase equivalente a uma tentativa de aquisição. Esta mesma identificação pode ser vista no comportamento infantil. Casa indica família, no sentido antigo da palavra, e a ideia de esposa é primária. Isto é explicitamente demonstrado em Deuteronômio 5.21, onde a esposa é mencionada em primeiro lugar. Boi e jumento são a riqueza típica do camponês ou seminômade da Idade do Bronze, para quem as perplexidades da sociedade desenvolvida ainda não haviam surgido. “Escravos” eram a única outra forma de propriedade móvel. Em última análise, desejar, e tentar obter a propriedade alheia é estar insatisfeito com o que se recebeu de Deus, e assim demonstrar falta de fé em Seu amor. Além do mais, a inveja estimulada por tal atitude levará mais cedo ou mais tarde a que se prejudique de alguma maneira o próximo, o que não se coaduna com o dever essencial do amor. Alt, citado por Hyatt, entende o oitavo mandamento como uma proibição ao rapto de israelitas ao passo que o décimo se referiria a uma proibição ao rapto de suas esposas ou roubo de suas possessões. Tal divisão parece forçada: se há alguma distinção a ser feita, seria melhor fazê-la entre “ato” (oitavo) e “motivo” (décimo), embora, como já foi dito acima, mesmo esta distinção não deva ser exageradamente enfatizada. (R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 155).].
SINOPSE DO TÓPICO (III)
Do quinto ao décimo mandamento, o Decálogo apresenta leis que tratam da relação do homem com o próximo.

CONCLUSÃO
A Lei expõe e condena os nossos pecados, porém, o Senhor Jesus Cristo, pelo seu sangue expiador, nos perdoa e nos justifica mediante a fé. [Comentário: Devem os cristãos hoje guardar os Dez mandamentos? A unidade da Escritura assume a continuidade da Lei de Deus. A Palavra de Deus nos revela uma ética contínua e justa: “A Escritura não pode ser anulada” (João 10.35b). “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.16-17). O manual do viver santo para o cristão é “toda a Escritura”. Toda a Escritura, não apenas o Novo Testamento, foi dada para que o cristão pudesse ser “perfeito” e “perfeitamente instruído para toda a boa obra”. Paulo ensina claramente a importância de “guardar os mandamentos de Deus”, quando escreve: “A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus” (1Co 7.19). Esse é o motivo dele escrever num capítulo mais adiante: “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei” (1Co 14.34). João concorda com Paulo: “E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (1Jo 2.3-4). “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”. 


P/ Pr. Luis Fernando de Souza, Setorial