DESCOBRINDO O NOVO TESTAMENTO
GÁLATAS E EFÉSIOS
Texto Básico: Ef 1:1-6
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”(Ef 2:8).
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao estudo panorâmico do Novo Testamento vamos estudar nesta Aula as Epístolas de Gálatas e Efésios. A Epístola de Paulo aos Gálatas é um tesouro inesgotável de gloriosas verdades que ornam a fé cristã. Nessa Epístola, o apóstolo Paulo demonstra que o crente não é justificado pelas obras da lei, mas por meio da fé em Cristo (Gl 2:16); que de todos os modos a lei não foi dada para esse propósito, senão preparar o caminho para a obra redentora de Cristo (Gl 3.19), e que o Espírito Santo que é dado aos crentes produz um fruto tão agradável que nenhum esforço carnal de guardar a lei pode rivalizar com ele (Gl 5:22).
A Epistola aos Efésios é a coroa dos escritos de Paulo. Nela o apóstolo Paulo aborda alguns temas que não trata com tanta profundidade nas demais, como a questão da reconciliação dos judeus com os gentios, o mistério do Evangelho, a plenitude do Espírito, a família e a batalha espiritual. Essa é uma Carta não apenas teológica, mas, sobretudo, prática. Ela tange de forma profunda e clara os princípios que devem nortear a família e a igreja neste mundo inundado de escuridão.
I. GÁLATAS, A NATUREZA VERDADEIRA DO EVANGELHO
Gálatas é o coração do Evangelho. Esta Epístola proclama tanto a liberdade cristã como a universalidade do Evangelho. Gálatas é a resposta de Deus para os numerosos falsos cultos de hoje em dia, os quais propõem uma mistura do judaísmo com o cristianismo. No passado, hoje e sempre, Gálatas é arma poderosa para derrotar o sacramentalismo pagão da Roma papal, o legalismo moderno de leis e preceitos de guarda de determinados dias e abstenção de certos alimentos. Todos os ensinos que atentam contra a pessoa e a obra do Senhor Jesus, como as doutrinas fantasiosas de Joseph Smith e Brigham Young, fundadores do mormonismo, e as distorções da seita Testemunhas de Jeová, são veementemente combatidas pela mensagem de Gálatas. Assim, Gálatas ergueu-se no passado, está em pé hoje e assim permanecerá, para sempre, com a bandeira da plena liberdade em Cristo, nas balizas do Santo Espírito de Deus.
1. Introdução e Autoria. A Epístola de Paulo aos Gálatas é a sua Epistola mais polêmica. Seu tom apologético é vivo, e suas palavras são contundentes. Paulo havia evangelizado os gálatas, que alegremente receberam a palavra do Evangelho. Depois que Paulo se foi, vieram mestres judaizantes, dizendo que o cristianismo era apenas um tipo de judaísmo melhorado, e que os cristãos gentios também deviam guardar a lei, se quisessem ser salvos (At 15:1,5). Os gálatas os estavam seguindo e com isso se desviavam da verdade do Evangelho. A epístola de Paulo aos Gálatas diz respeito a essa controvérsia judaizante, em função da qual se reuniu o Concílio de Jerusalém (At 15:1-35).
Gálatas foi possivelmente a primeira carta escrita por Paulo e por consequência o primeiro livro canônico do Novo Testamento. Só por isso, já mereceria nossa mais prestimosa atenção. Porém, essa Epístola é a carta magna da liberdade cristã. Tem sido chamada a "declaração da independência cristã".
A Carta aos Gálatas teve um papel fundamental na história da igreja. Ao lado de Romanos, essa missiva é um dos esteios da gloriosa doutrina da justificação pela fé. Foi pela descoberta de seu bendito conteúdo que Lutero deflagrou a Reforma no século 16. Para Lutero, durante a Reforma, Gálatas foi a fortaleza de onde, entrincheirado, ele combateu a violência e todos os erros da Roma papal. Lutero a considerava o melhor dos livros da Bíblia. Essa Carta tem sido chamada "o grito de guerra da Reforma.
A Carta é ríspida quando aborda a questão judaizante (Gl 5-12) ou quando repreende os crentes gálatas (G 4:20). Alguém comparou a Carta aos Gálatas a uma espada flamejante empunhada nas mãos de um grande guerreiro.
Os torpedos dos judaizantes estavam voltados para atacar em duas direções: à legitimidade do apostolado de Paulo e à integridade de sua teologia. A defesa desses dois pontos é o núcleo dessa missiva. O apóstolo Paulo estava determinado a libertar o Evangelho das tentativas judaizantes de aliená-lo.
Autoria. A autoria paulina de Gálatas é um consenso praticamente unânime entre todos os estudiosos ao longo dos séculos. Há abundantes testemunhos internos e externos que apontam a autoria paulina de Gálatas. Vejamos essas duas evidências.
- Em primeiro lugar, as evidências internas. O nome de Paulo ocorre na saudação (Gl 1:1) e também no corpo da carta (Gl 5:2). Praticamente todo o capítulo 1 e o 2 são autobiográficos; os debates do capítulo 3 (Gl 3:1-6,15) foram postos na primeira pessoa do singular; os apelos do capítulo 4 se referem diretamente às relações existentes entre os destinatários da epístola e o seu autor (4:11,12-20); a intensidade do testemunho de Paulo aparece no capítulo 5 (Gl 5:2,3); e a conclusão, no capítulo 6, termina com uma alusão aos sofrimentos do autor por amor a Cristo (Gl 6:17).
- Em segundo lugar, as evidências externas. Há diversas referências dos principais pais da igreja nos primeiros séculos confirmando a autoria paulina de Gálatas. Essa epístola foi largamente reconhecida e empregada no século II. Nada menos de 25 versículos são citados por Irineu, que mencionou a epístola pelo nome. Ela também foi abordada nos comentários de Orígenes. Jerônimo e Pelágio, no século IV, e um grupo de escritores latinos no século IX, tornaram-na tema de seus estudos.
2. Contexto histórico. Uma retrospectiva dos acontecimentos nos ajudará a entender melhor o contexto. Antioquia da Síria era a terceira maior cidade do mundo, uma cidade verdadeiramente cosmopolita. Ali havia uma comunidade de judeus crentes (At 11:19-26). Essa comunidade cresceu e ali os discípulos foram chamados pela primeira vez de cristãos (At 11:26). A igreja de Antioquia tornou-se uma igreja multirracial (At 13:1). Dela saíram os missionários Barnabé e Saulo, que, passando pela Galácia do Sul, estabeleceram igrejas nas cidades de Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe.
Nessas cidades, os gentios acolhiam o Evangelho com alegria, mas os judeus faziam implacável oposição a Paulo e Barnabé (At 13:50;14:2,4; 14:19). Ao retornar para Antioquia, relataram quantas coisas fizera Deus e como abrira aos gentios a porta da fé (At 14:27). Certamente a notícia da conversão abundante dos gentios chegou a Jerusalém. De Jerusalém desceram alguns indivíduos, da seita dos fariseus que haviam crido (At 15:1,5), e começaram a perturbar os irmãos em Antioquia. Paulo e Barnabé os confrontam (At 15:2). Por serem eles ligados à igreja de Jerusalém, Paulo leva a questão aos apóstolos e presbíteros de Jerusalém, e, para sanar essa questão doutrinária, o concílio reúne-se e chega à conclusão de que os judaizantes laboravam em erro (At 15:6-29). A decisão do concílio foi promulgada e divulgada entre as igrejas de Antioquia, Síria e Cilicia (At 15:22-35), bem como às igrejas da Galácia do Sul (At 16:1-4). A atitude dos falsos mestres judaizantes saídos da própria igreja de Jerusalém e de outros oriundos da Ásia Menor continuou, entretanto, a perturbar a igreja gentílica antes e depois do Concílio de Jerusalém. Os decretos eclesiásticos infelizmente não resolvem na base todos os problemas doutrinários da igreja.
Portanto, Paulo escreve essa Epístola para trazer um grupo de igrejas na Galácia (1-6) de volta ao Evangelho (Gl 1:2), do qual repentinamente se haviam afastado. O novo "evangelho" que elas abraçaram não era evangelho nenhum na verdade (Gl 1:7). O verdadeiro Evangelho, aquele que Paulo pregou e que elas aceitaram, vinha mediante revelação de Jesus Cristo diretamente a Paulo (Gl 1:12). É o mesmo Evangelho pregado por outros apóstolos (Gl 2:7-9). Isto significa que versões alteradas do Evangelho devem ser consideradas necessariamente distorções inaceitáveis. Nem mesmo visões angelicais ou uma mensagem diferente do próprio Paulo deveria atrair os gálatas para trocar sua primeira fé por uma fé revisada (Gl 1:8).
3. Conteúdo. A Carta aos Gálatas foi escrita com dois principais propósitos em vista: o primeiro foi a defesa do apostolado de Paulo; e o segundo, a defesa do Evangelho anunciado por Paulo. Essas duas vertentes estavam estreitamente interligadas.
a) A defesa do apostolado de Paulo. Os judaístas solapavam a autoridade de Paulo como apóstolo de Jesus Cristo. Para tanto, tornavam nebulosa a sua relação com os primeiros apóstolos e os cristãos de Jerusalém. Eles espalhavam que Paulo era ávido por receber agrados dos homens (Gl 1:10). Também diziam que Paulo era inferior aos apóstolos de Jerusalém. Toda a autoridade apostólica de Paulo estava em jogo. Caso permitisse que fosse aceita a ideia de ele ser inferior aos apóstolos de Jerusalém, sem defesa de sua parte, sua missão apostólica correria risco. Paulo faz questão de afirmar que seu apostolado (Gl 1:1) e seu Evangelho (Gl 1:12) não tinham procedência humana, mas divina, e que ele não era inferior aos apóstolos de Jerusalém, os quais haviam reconhecido seu apostolado (Gl 2:7-10).
Paulo é apóstolo de Cristo não por inspiração própria, ou por usurpação, nem mesmo por qualquer indicação do homem, mas por vontade de Deus. A igreja não nomeia apóstolos; eles são chamados por Jesus. Nenhum homem pode constituir a si mesmo apóstolo; esse papel pertence exclusivamente a Cristo. Não temos mais apóstolos na igreja contemporânea, uma vez que a revelação de Deus está completa nas sagradas Escrituras. Hoje, seguimos o ensinamento dos apóstolos, conforme revelação registrada nas Escrituras.
b) A defesa do Evangelho proclamado por Paulo. Os judaístas combatiam ardorosamente a liberdade que Paulo anunciava por meio do Evangelho. Os fariseus já haviam formado uma união que visava santificar pela obediência à lei todo o dia-a-dia de seus membros, do berço ao ataúde. Para isso, não apenas contavam cuidadosamente os 613 mandamentos citados no Antigo Testamento (365 ordens e 248 proibições), mas os ainda rodeavam com um círculo de determinações adicionais. Essas eram as "tradições dos anciãos'", mencionadas em Marcos 7:1-13, às quais Jesus contrapôs os verdadeiros mandamentos de Deus. Agora esses pregadores judaístas, como falsos irmãos, queriam introduzir não a lei inteira, mas somente "um pouquinho" dela (Gl 5:9), enquanto eles mesmos não a guardavam (Gl 6:13).
O problema de acrescentar alguns preceitos da lei à fé como condição para a salvação é que esses falsos mestres estavam atacando o coração do próprio cristianismo. Os judaístas pensavam que nenhum gentio poderia ser salvo a menos que se tornasse primeiro judeu. O argumento de Paulo é que acrescentar alguns preceitos da lei à fé não apenas anula a própria lei (Gl 6:13) e a fé, mas também rechaça a graça de Cristo (Gl 5:2-4). Essa tentativa de combinar o cristianismo com o judaísmo foi chamada por Paulo de "outro evangelho", e o apóstolo o condena sem rodeios, dizendo que deveria ser "anátema" (Gl 1:7-9).
4. As principais ênfases da Carta aos Gálatas
a) A liberdade cristã.. A liberdade cristã é o tema central desta Epístola, particularmente no que se relaciona à liberdade da escravidão do legalismo, que é a consequência natural de quem busca adquirir a salvação por meio das obras. A lei impõe uma maldição aos que não cumprem toda a lei. Nenhum pecador cumpre toda a lei. Mas Cristo tomou sobre si a maldição da lei, livrando assim os que nele confiam (Gl 3:10-14). A lei escraviza os homens a noções elementares; Cristo os liberta. É insensatez tornar-se livre em Cristo, para então submeter-se de novo à lei (Gl 4:8-11; 5:1; 3-19). Entretanto, a liberdade cristã não é sinônimo de anarquia ou de licenciosidade. Ela requer responsabilidade.
b) Ajustificação pela fé. A Carta aos Gálatas foi a pedra fundamental da Reforma Protestante, porque seu ensino sobre a salvação exclusivamente pela graça tornou-se o tema dominante da pregação dos reformadores.
Paulo refuta os judaizantes mostrando para eles que Abraão, o pai da fé, não foi justificado por obras, mas pela fé. O propósito da lei não é salvar, mas convencer o homem do seu pecado, tomá-lo pela mão e levá-lo ao Salvador.
A promessa divina de Abraão cumpre-se em Cristo, e não na lei, pelo que as bênçãos decorrentes da promessa são estendidas a todos os que crêem em Cristo (Gl 3:6-9,15-22). O verdadeiro filho de Abraão não é aquele que tem o sangue de Abraão correndo nas veias, mas o que tem a fé de Abraão habitando em seu coração, pois a salvação não se baseia na obra que fazemos para Deus, mas na obra que Deus fez por nós em Cristo. A salvação não é resultado do mérito humano, mas presente da graça divina. A justificação é pela fé, e não pelas obras!
c) A suficiência da obra de Cristo. Os judaizantes pregavam uma salvação provinda em parte das obras e em parte da fé. Para eles a salvação era o somatório das obras mais a fé, uma espécie de parceria entre o homem e Deus, na qual o homem entraria com o esforço das obras e Deus com a oferta da graça mediante a fé. Pelo ensino dos mestres judaizantes o homem receberia a salvação como um prêmio de seus méritos, e não como uma oferta da graça. Não podemos acrescentar coisa alguma à obra de Cristo. A salvação não é um troféu que se ostenta, mas um presente que se recebe.
O fundamento da salvação está na suficiente obra de Cristo e não nos pretensos méritos humanos (Gl 2:21).
d) A obra do Espírito Santo. A santificação não resulta do esforço da carne, mas da ação do Espírito. O poder para uma nova vida não vem de dentro, mas do alto; não das obras da lei, mas do poder do Espírito Santo. Os crentes devem andar no Espírito (Gl 5:16), produzir o fruto do Espírito (Gl 5:22,23) e viver no Espírito (Gl 5:25).
II. EFÉSIOS, A IGREJA GLORIOSA
O foco de Efésios é o mistério da Igreja. A igreja é a nova humanidade de Deus, uma colônia onde o Senhor da história estabeleceu uma amostra da unidade e dignidade renovada da raça humana (f 1:10-14; 2:11-22: 3:6,9-11; 4:1-6:9). A Igreja é uma comunidade onde o poder de Deus de reconciliar as pessoas a si próprio é experimentado e compartilhado através de relacionamentos transformados (Ef 2:1-10; 4:1-16; 4:32-5:2; 5:22-6:9). É um novo templo, uma construção feita de pessoas, fundada na revelação segura do que Deus tem feito na história (Ef 2:19-22; 3:17-19). A igreja é um organismo onde o poder e a autoridade são exercidas segundo o padrão de Cristo (Ef 1:22; 5:25-27), e a sua mordomia é uma maneira de servi-lo (Ef 4:11-16; 5:22-6:9). A igreja é um posto avançado num mundo tenebroso (Ef 5:3-17), buscando o dia da redenção final. Acima de tudo, a Igreja é a noiva que se prepara para a chegada do seu amado esposo (Ef 5:22-32).
1. Introdução e autoria. Alguns eruditos consideram Efésios uma Epístola circular, e não apenas uma Epístola dirigida particularmente à igreja de Éfeso, uma vez que Paulo não trata ali de problemas locais como o faz nas outras epístolas. Mesmo que isso seja um fato, isso em nada deslustra a integridade e a pertinência de sua mensagem. Efésios também é considerada uma carta gêmea de Colossenses. Escritas do mesmo local, no mesmo período e levadas às igrejas pelo mesmo portador, ambas tratam basicamente das mesmas coisas. Alguém disse que a carta aos Efésios alcança um campo mais vasto do que qualquer outra epístola do Novo Testamento, com exceção, talvez, da Carta aos Romanos. Ela abrange os judeus e os gentios, o céu e a terra, o passado, o presente e os tempos futuros. A ênfase fundamental de Colossenses é apresentar Cristo como Cabeça da igreja, e a ênfase essencial de Efésios é a apresentar a igreja como corpo de Cristo.
Paulo esteve três anos na cidade de Éfeso e, ali, plantou uma pujante igreja, que se tornou influenciadora em todos os rincões da Ásia Menor.
- A igreja de Éfeso tem dois endereços: ela é cidadã do mundo (está em Éfeso) e cidadã do céu (está em Cristo). Toda a vida do cristão está em Cristo. Como a raiz enterrada na terra, o ramo ligado à videira, o peixe está no mar e o pássaro no ar, também o lugar da vida do cristão é em Cristo. "Aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso”(Ef 1:1). A palavra santo não quer dizer uma pessoa que não peca. Os santos não são pessoas mortas canonizadas, mas pessoas vivas separadas por Deus para viver uma vida diferente. Fiéis são todos aqueles que confiam em Cristo Jesus. Todo aquele que é fiel também é santo, e todo santo é fiel. A palavra grega hagioi, "santos", quer dizer separados. Nos dias do Antigo Testamento, o tabernáculo, o templo, o sábado e o próprio povo eram santos por ser consagrados, separados para o serviço de Deus. Uma pessoa não é ''santa" nesse sentido por mérito pessoal; ela é alguém separada por Deus e, por conseguinte, é chamada a viver em santidade.
- Autoria. Esta Carta reclama a autoria paulina de forma explícita(Ef 1:1; 3:1). Muitos temas e expressões que são comuns em suas cartas anteriores são encontradas com frequencia em Efésio. As semelhanças verbais com Colossenses são surpreendentes. A linguagem e o estilo de Efésios são certamente diferentes em alguns aspectos quando comparadas com outras cartas de Paulo. Ainda assim, parecem-se tanto com Paulo que mesmo se a carta não tivesse o seu nome, seria difícil imaginar que a Igreja a creditasse a qualquer outra pessoa.
Praticamente todos os eruditos desde o século I apontam Paulo como autor dessa missiva. Já no século II, os pais da igreja atribuíram a epístola a Paulo de Tarso. Inácio de Antioquia (martirizado em 115 d.C.) conhecia a epístola para Efésios e sabia que era paulina. A autoria paulina é sustentada por outros líderes cristãos do século II, incluindo Irineu de Lyon, Clemente de Alexandria e Tertuliano de Cartago.
O apóstolo dos gentios escreveu essa carta por ocasião de sua primeira prisão em Roma. Ele já tinha passado por agruras terríveis antes de chegar à capital do império. Ele tinha sido perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém e esquecido em Tarso. Ele já tinha sido apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica, enxotado de Bereia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto. Enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém e acusado em Cesaréia. Enfrentou um naufrágio avassalador ao dirigir-se a Roma e foi picado por uma cobra em Malta. Já tinha sido fustigado três vezes com varas pelos romanos e recebido 195 açoites dos judeus (2Co 11:24,25). O velho apóstolo chegou a Roma preso e algemado. Durante dois anos, ficou numa casa alugada sob custódia do imperador. Vigiado pela guarda pretoriana, a guarda de elite do palácio imperial composta de 16 mil soldados, encorajou os crentes de Roma e escreveu cartas para as igrejas das províncias da Macedónia e da Ásia Menor.
Longe de se considerar prisioneiro de César, deu a si mesmo o título de o prisioneiro de Cristo Jesus (Ef 3:1), prisioneiro no Senhor (Ef 4:1) e embaixador em cadeias (Ef 6:20). As circunstâncias, nem mesmo as mais adversas, não levaram esse gigante de Deus a sucumbir. Ao contrário, ele foi um canal de consolo para as igrejas, porque estava ligado à fonte eterna. Ele foi um arauto de boas notícias, um embaixador do céu, um homem que ardeu de zelo por Cristo e doou-se com a mesma intensidade até sua voz ser silenciada pelo martírio.
Conforme o Rev. Hernandes Dias Lopes, “estudar essa Carta é pisar em solo sagrado. Precisamos fazê-lo com os pés descalços, o coração esbraseado e os olhos untados de lágrimas. Não podemos tratar de coisas tão sublimes com a alma seca como um deserto. Não estamos penetrando pelos umbrais de uma obra puramente acadêmica, mas entrando nas salas espaçosas do palácio do Rei da glória”.
2. Conteúdo. Há dois temas fundamentais no Novo Testamento: (a) como somos redimidos por Deus; e (b) como nós, os redimidos, devemos viver. Os capítulos 1-3 de Efésios tratam principalmente do primeiro desses temas, ao passo que os capítulos 4-6 focalizam o segundo.
a) Efésios caps. 1-3. Estes capítulos começam por um parágrafo de abertura que é um dos trechos mais profundos da Bíblia (Ef 1:3-14). Esse grandioso hino sobre redenção tributa louvores ao Pai pela eleição, predestinação e adoração que Ele nos propiciou (Ef 1:3-6), por nossa redenção mediante o sangue do Filho (Ef 1:7-12) e pelo Espírito Santo, como selo e garantia da nossa herança (Ef 1:13,14). Nesses capítulos, Paulo ressalta que na redenção pela graça mediante a fé, Deus nos reconcilia consigo mesmo (Ef 2:1-10) e com outros que estão sendo salvos (Ef 2:11-15), e, em Cristo, nos une em um só corpo, a Igreja (Ef 2:16-22). O alvo da redenção é “tornar a congregar em Cristo todas as coisas...tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”( Ef 1:10).
b) Efésios caps. 4-6. Estes capítulos consistem mais de instruções práticas para a Igreja no tocante aos requisitos que a redenção em Cristo demanda de nossa vida individual e coletiva. Entre as 35 diretrizes dadas em Efesios, sobre como os redimidos devem viver, destacam-se três categorias gerais: (1) Os crentes são chamados a uma nova vida de pureza e separação do mundo. São chamados a serem “santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef 1:4), a crescer “para templo santo no Senhor” (Ef 2:21), a andar “como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef 4:1), a “varão perfeito” (Ef 4:13), a viver “em verdadeira justiça e santidade “(Ef 4:24), a andar “ em amor “(Ef 5:2; cf 3:17-19) e a serem santos “pela palavra” (Ef 5:26), a fim de que Cristo tenha uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga...santa e irrepreensível” (Ef 5:27). (2) O crente é chamado a um novo modo de viver nos relacionamentos familiares e vocacionais (Ef 5:22-6:9). Esses relacionamentos devem ser regidos por princípios de conduta que distingam o crente da sociedade descrente à sua volta. (3)Finalmente, o crente é chamado a manter-se firme contra as astutas ciladas do diabo e as terríveis “hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6:10-20).
3. Contexto e Tema. O assunto principal de Efésios é o que Paulo chama de “mistério”, não com o sentido de algo que não tem explicação, mas com uma verdade maravilhosa não conhecida até então.
A verdade sublime que compõe o Tema da obra é o anúncio de que os crentes, tanto judeus como gentios, formam agora uma unidade em Cristo Jesus. São membros lado a lado da mesma igreja, o corpo de Cristo. No presente momento estão assentados em Cristo nos lugares celestiais. No Futuro, vão compartilhar da sua glória como Cabeça de todas as coisas. Esse mistério é mencionado em cada um dos seis capítulos da Epístola aos Efésios.
No Capítulo 1 é chamado de mistério da vontade de Deus e aponta para o futuro, para o tempo em que todas as coisas nos céus e na terra convergirão para Cristo (Ef 1:9-10). Crentes judeus (indicados pelo uso da primeira pessoa do plural nos verbos do versículo 11) e crentes gentios (indicados pelo uso da segunda pessoa do plural nos verbos do versículo 13) terão a sua parte na glória daquele dia. Reinarão com Ele sobre todo o universo, como seu corpo e sua plenitude (Ef 1:22-23).
O Capítulo 2 descreve o processo através do qual judeus e gentios são salvos pela graça de Deus; como são reconciliados com Ele e uns com os outros; como, unidos a Cristo, são feitos um novo homem; e como formam um templo santo no qual Deus habita por seu Espírito.
O Capítulo 3 fornece uma explicação mais completa do mistério. Ali é descrito o mistério “de Cristo” (Ef 3:4), ou seja, Cristo como a Cabeça, e todos os crentes, como seu corpo. Nesse corpo, crentes gentios são co-herdeiros, membros ligados entre si e co-participantes da promessa de Deus (Ef 3:6).
O Capítulo 4 da ênfase à unidade do corpo e ao plano de Deus para o seu crescimento rumo à maturidade (Ef 4:1-16).
No Capítulo 5, o mistério é intitulado Cristo e a Igreja (Ef 5:32). O relacionamento entre ambos é o padrão para o relacionamento entre o marido crente e a sua esposa.
O Capítulo 6 fala do mistério do Evangelho, do qual Paulo era embaixador em cadeias (Ef 6:19-20).
É interessante imaginar o impacto dessas verdades sobre os crentes gentios a quem foram dirigidas. Eles não somente eram salvos pela graça por meio da fé como os judeus, mas pela primeira vez ocupavam lugar de igual privilégio entre eles. No que diz respeito à sua aceitação perante Deus, em nada eram inferiores. E estavam destinados a ser entronizados com Cristo como seu Corpo e sua Noiva, partilhando da glória do seu Reino Universal.
CONCLUSÃO
Espero que o estudo destas duas sagradas Epistolas inflame sua alma, aqueça seu coração, abra seus lábios e apresse seus pés para anunciar ao mundo que Jesus Cristo nos amou e se entregou por nós. Que ele morreu pelos nossos pecados, mas ressuscitou para a nossa justificação e está à destra de Deus Pai, de onde governa soberanamente os céus e a terra e de onde há de vir para buscar a igreja, a sua amada noiva.
Elaboração: Luciano de Paula Lourenço – Prof. EBD – Assembléia de Deus – Ministério Bela Vista. Disponível no Blog: http://luloure.blogspot.com
Referências Bibliográficas:
Bíblia de Estudo Pentecostal.
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
O Novo Dicionário da Bíblia – J.D.DOUGLAS.
Panorama do Novo Testamento – ICI, São Paulo, 2008).
William Macdonald – Comentário Bíblico popular (Novo Testamento).
Comentário Bíblico NVI – EDITORA VIDA.
Guia do Leitor da Bíblia – Lawrence O. Richards
Gálatas (A Carta da liberdade cristã) – Hernandes Dias Lopes.
Efésios (Igreja, a noiva gloriosa de Cristo) – Hernandes Dias Lopes.